sábado, 8 de novembro de 2008

Whiskey & Chocolate

Capítulo 1 - Dividendos

Acho que já eram meados de Novembro. É devia ser. E se não for exatamente isso, problema. Eu não me atenho muito à datas, percebe? Pois bem... como qualquer terceiranista comum, à esta altura do ano, eu já estava parecendo com qualquer coisa que se assemelhasse à um brinquedinho nervoso movido à pilhas, de tão supersaturada que eu estava em relação à escola. Parece que quanto mais perto do fim se chega, mais impaciente se fica. E oi, dá licença, eu não sou exceção à regra, certo?! Pra falar a verdade, eu andava desesperada para explodir o colégio ou coisa do tipo, sabe? Me irritava com qualquer coisa relacionada ao lugar. Digo, quase qualquer coisa. Porque havia uma certa aula em particular que parecia amansar o meu já usual humor ácido.
Pois é, aula de Geografia Humana com o melhor professor que eu já vira na vida. Na verdade, eu estava cagando e andando, literalmente, para o resto das aulas, mas a dele era diferente. Não que eu estivesse dando uma de porra louca, afinal, o vestibular estava batendo insistentemente na minha porta. É só que eu não aguentava mais nada. Mas quando chegava aquela aula... ah... tudo se iluminava.
Eu não lembro bem de todos os detalhes dessa aula, nem que dia era, nem porra nenhuma. Não lembro o assunto dado, nem quem estava ali ou deixava de estar, muito menos se eu prestei atenção à alguma coisa. Na verdade, não tem muita importância. Acho que a única coisa que consigo me lembrar daquele dia foram dois diálogos com o dito professor, um antes do início da aula e outro depois. E foi mais ou menos assim...

Eu estava, como sempre no curto espaço de tempo da troca de professores, no corredor (único, diga-se de passagem. Todo o resto é uma extensão dessa desgraça de corredor) daquele prédio infeliz reservado exclusivamente para os terceiros anos da escola. Encontava-me sentada no banquinho azul ao lado da porta da sala, conversando com as garotas, esperando a chegada do próximo professor. Na verdade, permitam-me ser sincera, eu me encontrava largada no dito banquinho
, deixando que o tédio me dominasse completamente e revirando eventualmente os olhos pelo teto enquanto escutava as histórias mirabolantes de uma colega. Foi quando Ju me lançou um olhar realmente significativo e sussurrou entre dentes:
-Nic, lá vem Ferrero...
Eu, instintivamente, olhei para a única direção pela qual ele poderia estar vindo. Juro, não foi de propósito. Eu sei que dava pra ter sido mais discreta e tudo o mais, só que não deu pra evitar... foi mais forte que eu, sabe? Não que Ju não fosse me repreender, claro. Acho que alguém lá em cima me mandou ela pra substituir meu juízo e meu bom senso, que vieram com defeito de fábrica.
-Ô, demente, disfarça!
Pois é, eu mereci. A única resposta que consegui dar foi um olhar azedo de 'qual é, doido?'. E não precisa me dizer, eu tenho plena consciência de que sou abusada. E isso é porque vocês ainda não viram o tamanho do meu sarcasmo, ok?
De qualquer forma, o pseudo-conflito (porque eu e Ju já estamos acostumadas uma com a outra, e conflitos reais não existem entre nós. A hostilidade é apenas um detalhe insignificante, certo?!) se dissipou naquele segundo, porque Ferrero agora já estava a poucos passos de onde nós estávamos. Como meninas educadas que nós somos, todas nós (quem sabe quantas éramos? Eu não...) viramos para a criatura que vinha vindo e sorrimos, cumprimentando-o em coro:
-Bom dia, professor!
E ele, para meu deleite, sorriu de volta e nos respondeu. E não, eu não vou colocar aqui o que ele respondeu. Foi um simples bom dia, sabe? Então pulemos logo para o restante da coisa toda. As meninas se levantaram e entraram na sala, enquanto eu continuava lá fora. Ele, sabe-se lá Deus porque, também ficou lá fora, falando qualquer coisa boba comigo. Eu, que nunca fui boba, dei um sorriso no melhor estilo 'comercial de pasta de dentes' para ele e perguntei a ele onde estava o meu presente.
Bom, só a título de informação, em algum ponto deste ano ou do anterior, a criatura viajara para a amazônia, e tinha voltado com uma pulseirinha de sementes que me chamou a atenção. Eu fiz questão de dizer que a pulseira era linda, já na intenção de dar o ganho nela, claro. Afinal, eu não tenho cara de besta, certo?! E quer saber? Funcionou. Porque ele prometeu que até o fim do ano, ele me dava a pulseira.
Quando eu perguntei pelo presente, ele sorriu.
-Tá guardado, menina. Daqui pra o fim do ano, você vai ter uma surpresa.
Lencei-lhe um olhar levemente irônico e franzi o cenho. Digamos que eu não goste de enrolação, ponto.
-Ah, é? Quero só ver... promessa é dívida... lembre-se disso...
E simplesmente entrei na sala, parando apenas ao chegar na porta para virar para trás e olhá-lo, encontrando-o a me mirar, um misto de diversão e mistério no rosto. Sorri com o canto dos lábios, como é bem típico meu, e entrei na sala, indo ocupar meu lugar junto à Ju. Ela não falou nada. Apenas riu-se baixinho e maneou negativamente a cabeça, como quem diz que eu não tinha jeito.

O restante da aula se passou de uma forma que eu não saberia narrar. Digo, eu já deixei claro que não me recordo de nada mais que aconteceu naquele dia, exceto os diálogos. Sendo assim, deixemos essa parte chata de lado (apesar de que as aulas dele eram -e ainda são- perfeitas) e pulemos logo para o segundo diálogo.

Assim que a aula acabou, os alunos saíram da sala de aula numa maré de cabecinhas desesperadas, como uma manada que foge do predador. Eu, claro, continuei quietinha no meu lugar, me fazendo de boba, fingindo estar resolvendo umas questões. Ferrero agora arrumava suas coisas, e continuou assim até que os alunos retardatários saíssem da sala, para então se aproximar de mim. Eu, claro, continuei na minha encenação de boa menina, e não tirei os olhos das questões contidas na ficha de exercícios.
-Menina, menina...
Ele sempre teve mania de me chamar de menina, algo que sempre gostei. Olhei para ele.
-Oi, oi...
Sorri daquele jeitinho que só eu sei sorrir, modéstia à parte. Meus olhos travessos se fixaram nos dele. Ficamos calados durante uma fração de segundos. Eu, então, quebrei o silêncio e voltei meus olhos de gato mais uma vez para a ficha.
-Quero saber é do meu presente...
Ele riu, claro.
-Você vai ganhar. Não se preocupe.
Olhei-o de relance. Agora, largava de vez a ficha e me levantava, fazendo de conta que já tinha terminado as questões. Sorri de leve e dei de ombros.
-Eu sei. Você não é nem doido de não pagar sua dívida...
Ele retribuiu o sorriso e se aproximou.
-Sou não. Pode deixar.
Segurou minha mão, me deu um abraço e saiu. Eu fiquei apenas olhando-o se afastar a passos despreocupados, um esboço de sorriso malicioso pintado nos meus lábios. Aquilo não era o começo da história, muito menos seria o fim. É apenas a parte onde as coisas mudam drasticamente. Porque eu havia decidido que ia me mexer, depois de três longos anos de amor platônico.

Apesar da mudança nos nomes dos personagens e de algumas leves mudanças nos fatos, culpa do efeito do tempo na memória, a história aqui registrada é real, e ainda acontece com Nicole Baudelaire.

6 comentários:

Anônimo disse...

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Hélio disse...

Oi Fê!
Vim agradecer seu comentário no meu blog, obrigado! =)

E sobre o post da Nicole eu digo que também já tive um amor platônico, na 8ª série. Professora de português, da mais bonitas que eu já tive. Por ela eu faria doutorado em letras, huahua.
Logo no ano seguinte ela saiu do colégio.

Coisas de aborrecente! =)

Estao* linkadas!
Muchas gracias!

*teclado sem acento tio

Ynot Nosirrah disse...

Gostei de seu blog. Voltarei sempre que puder e houver alguma novidade. Venha conhecer meu espaço e será bem-vinda.

http://conscienciaacademica.blogspot.com/

Gabriela Alcântara disse...

adoro adoro adoro adoro
nesses momentos - em que resolvemos nos mecher - parece que o mundo ganha uma nova tonalidade.

LiaH disse...

Ja Me Apaixonei Por um Professor tbm!!!!! e esse joguinho de Olharess é Bomm demais... Parece ser "Proibido" e tudo q é Proibido é Bemm Melhor!!!
Adorei vir Aquiiii
Vou Aparecer Sempreee!!!
beijooooos!

Roberto Ney disse...

quero saber logo como issso termina, heheheheheheh
a história está esquentando... gostei!
I´ll ba back!